O PROBLEMA DOS ESTOQUES NOS SISTEMAS
PRODUTIVOS CONVENCIONAIS E A MENTALIDADE LEAN: FOCO NA ELIMINAÇÃO DAS
INEFICIÊNCIAS
Por: André Luís Almeida Bastos1
O lean
manufacturing significa manufatura enxuta e consiste numa filosofia
originada no Sistema Toyota de Produção e que tem sido aplicada em diversos
tipos de sistemas produtivos, em todo o mundo, como uma estratégia operacional
visando o incremento dos níveis de qualidade dos produtos, da produtividade e,
conseqüente, da competitividade, por meio de criação de fluxos contínuos. Para Womack e Jones (2004), os primeiros
estudiosos do tema, o propósito da filosofia lean manufacturing consiste na eliminação de todo e qualquer
desperdício, ou seja, tudo o que não agrega valor ao produto e que impede as
melhorias incrementais de processo. Com a eliminaçao destes desperdícios, há
uma melhoria no fluxo dos processos e no trabalho dos colaboradores, reduzindo,
dessa forma, o lead time produtivo, e tornando a empresa mais flexível para
atendimento do seu mercado.
Shigeo Shingo
(8/01/1909 – 14/11/1990), um dos maiores gênios no campo de estudo da Engenharia
de Produção, já apontava para os sete desperdícios mais comuns nas empresas:
superprodução, defeitos de qualidade, processamento inapropriado, esperas, estoques
desnecessários, transporte excessivo e movimentação desnecessária (SHINGO, 1996;
OHNO, 1997). Entretanto, estes tipos de desperdícios podem ser eliminados ou minimizados
se os conceitos lean forem
adequadamente implementados dentro dos fluxos de valor porta-a-porta, dentro da
fábrica.
Ao contrário
da cadeia de suprimentos de sistemas produtivos convencionais, a qual pode
contar com excesso de estoques e que, por conseqüência, convive com
ineficiências escondidas, a idéia contida na mentalidade Lean consiste em
maximizar o fluxo de valor, reduzir desperdícios e perdas, reduzir os tempos de
entrega, reduzir estoques, dispor de maior flexibilidade e melhorar o nível de
serviço ao cliente, sem impacto nos custos. Este pensamento é capaz de
subsidiar um diferencial logístico para o incremento da competitividade,
baseado em um serviço de qualidade, menor custo, a partir da flexibilidade e
agilidade (BOWERSOX et al., 2002).
Tradicionalmente,
a existência dos estoques nos sistemas produtivos convencionais está associada
à necessidade de evitar descontinuidades no processo produtivo que sejam
decorrentes de algumas ineficiências tais como:
a) problemas
de qualidade ao longo do processo: neste caso, o estoque, denominado pulmão,
impediria a interrupção de materiais nas etapas produtivas;
b)
alterações no seqüenciamento de ordens de produção, bem como maximização do
tamanho do lote, visando minimizar horas improdutivas com setups;
c) problemas
no fornecimento de materiais, especialmente quando não se possui uma relação de
parceria com fornecedores de forma a garantir pontualidade e qualidade dos
itens entregues;
d)
programação e fabricação de lotes maiores de forma a minimizar o custo unitário
de fabricação.
Dessa forma,
o principal argumento que embasa o pensamento lean consiste no fato de
que o nível de estoque acaba por esconder as ineficiências do processo. O fato
é que, no sistema produtivo tradicional, as ineficiências, como as citadas
acima, são encobertas pelo nível de estoque e à medida que se reduz este nível,
tais ineficiências são evidenciadas. Tal princípio, já amplamente discutido nas
bibliografias, é utilizado pela lógica enxuta de forma a minimizar os estoques,
a partir de uma atuação para eliminação das causas dos problemas que estão
visíveis e que, dessa forma, são alvos de ações no sentido de eliminá-las.
Há que se
ressaltar dois aspectos típicos do pensamento lean na aplicação deste
princípio: o primeiro é que as pessoas diretamente envolvidas com os problemas
nas empresas são convidadas a atuarem nos grupos de trabalho, através dos
Kaizens, utilizando-se, em geral, das técnicas de solução de problemas
conhecidas como MASP – Metodologia de Análise e Solução de Problemas. Neste
caso, percebe-se um maior envolvimento e motivação das pessoas, características
do ambiente da Qualidade Total, onde se utiliza o potencial intelectual dos
funcionários, eventualmente subestimado no sistema produtivo convencional. O
segundo aspecto é que os problemas devem ser tratados de forma sistemática para
que se obtenha efetividade nos efeitos das ações sobre as verdadeiras causas e
assim, ao eliminar ou minimizar as causas dos problemas, pode-se minimizar
ainda mais o nível dos estoques, quando então novos problemas antes encobertos,
são evidenciados, o que caracteriza o princípio da Melhoria Contínua.
Em suma, os
estoques são artifícios utilizados para impedir as descontinuidades nos
sistemas produtivos convencionais. Tais descontinuidades são causadas por uma
diversidade de ineficiências que tais empresas acabam convivendo. Entretanto, a
mentalidade Lean visa atuar de forma sistemática nas causas geradoras de tais
ineficiências, visando a manutenção de um fluxo contínuo, sem as inconveniências
dos elevados níveis de estoque.
1
O autor é consultor de empresas e
professor universitário, coordenador de cursos de pós-graduação em Engenharia
de Produção e do MBA em Lean Manufacturing e diretor da ESNT – Escola Superior
de Negócios e Tecnologia
Contato:
abastos@esnt.com.br twitter: @ESNT_esnt
Referências:
BOWERSOX,
D. J; CLOSS, D. J.; COOPER, M. B. Supply
chain logistics management. New York.
McGraw-Hill/Irwin. 2002.
OHNO, T. O sistema toyota de produção
além da produção em larga escala , Trad. Cristina Schumacher,
Artes Médicas, Porto Alegre, 1997.
SHINGO, S. O sistema toyota de produção - do ponto de vista da engenharia de
produção. Porto Alegre, Bookman, 1996.
WOMACK, J; JONES, D. A Mentalidade Enxuta nas
Empresas: elimine o desperdício e crie riquezas. 5 ed. Rio de Janeiro: Campus,
2004.
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