REPENSANDO O MODELO DE TRANSPORTE NOS
SISTEMAS PRODUTIVOS CONVENCIONAIS, A PARTIR DOS PRINCÍPIOS LEAN
Por: André Luís Almeida Bastos¹
Nos últimos
anos, as indústrias brasileiras têm se deparado com um novo paradigma de
organização da produção, o qual confronta acentuadamente com o modelo
tradicional que rege a gestão da maioria dos sistemas produtivos. Este novo
paradigma, denominado lean manufacturing
ou produção enxuta, baseia-se em conceitos já bastante conhecidos como: just in time, células de produção,
polivalência, estoque zero, produção puxada, lote unitário, parcerias com
fornecedores entre outros
De acordo com Slack et al (2009) implementar
a manufatura enxuta significa focar na direção de remover todos os desperdícios
elencados por Shingo (1996), de forma que se desenvolva uma operação mais
rápida, mais confiável, produzindo produtos e serviços de alta qualidade com
baixo custo, utilizando ferramentas, tal como o just-in-time, para alcançar
tais metas.
De forma mais pragmática, sugere-se que a
empresa aplique os princípios enxutos, sendo eles: especificar o que cria e o
que não cria valor para os clientes e para a empresa; identificar todos os
passos necessários para projetar e fabricar o produto através do fluxo total de
valores visando destacar os passos que não adicionam valor (perdas); realizar
ações que criam fluxo de valores sem interrupção, esperas, desvios, refugos ou
contrafluxos; só fazer o que o cliente solicitar, ou seja, sem aplicação de
esforço adicional ou superprodução e; avaliar constantemente o fluxo e remover
continuamente os desperdícios (perdas) assim que elas forem descobertas,
buscando a “perfeição”.
De fato, a tarefa é um tanto quanto
árdua... mas, é necessário questionar alguns paradigmas tradicionais
implementados e enraigados nas organizações, sob pena das organizações não
estarem satisfazendo aos imperativos de competitividade cada vez mais
restritivos e ditados pelos próprios clientes. De
acordo com a lógica convencional dos sistemas produtivos, por exemplo, considera-se
a eficiência do transporte com a utilização de maiores equipamentos de
transporte, visando o maior aproveitamento da capacidade para reduzir o custo
do frete, enquanto que, neste caso, o tempo de entrega pode ser penalizado.
Entretanto,
no sistema enxuto, o abastecimento é ritmado e com maior freqüência de entrega
que permite coletar informações da necessidade do cliente com uma maior
freqüência. A informação das quantidades necessárias coletadas no processo
cliente é transmitida ao processo produtivo - característica que, segundo
Corbett et al. (1999), define o sucesso nos relacionamentos, e que por sua vez
deve produzi-la na mesma seqüência em que recebe a informação. A premissa para
viabilizar a produção do que é necessário no momento certo é melhorar a
eficiência e a velocidade do setup.
No sistema
convencional os lotes reduzidos aumentam a freqüência de movimentações. Neste
sentido, busca-se consolidar as cargas, acarretando aumento do tempo de
resposta ao cliente. Na lógica enxuta, o aumento da velocidade de resposta por
meio de lotes reduzidos é obtido por meio de adequação de leiautes e redução de
tempos de separação dos pedidos e de embarque de caminhões.
¹ O autor é consultor de empresas e
professor universitário, coordenador de cursos de pós-graduação em Engenharia
de Produção e do MBA em Lean Manufacturing e diretor da ESNT – Escola Superior
de Negócios e Tecnologia
Contato:
abastos@esnt.com.br twitter: @ESNT_esnt
Referência:
CORBETT,
Charles J., BLACKBURN, Joseph D. & WASSENHOVE, Luk N. Van. Case study partnerships to improve supply
chains. Sloan Management Review, v.40, n.4, Summer 1999.
SHINGO, S. O sistema toyota de produção - do ponto de vista da engenharia de
produção. Porto Alegre, Bookman, 1996.
SLACK, N.; CHAMBERS, S.; JOHNSTON, R. Administração da produção. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2009. 747 p,
il.